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quinta-feira, 30 de maio de 2013

A MIM




Tudo é reticência. Deus me livre os dois pontos – odeio explicações. Aposto que apostos e opostos nada têm em comum e ser comum é apenas um defeito próprio dos substantivos comuns. Eu não. Eu sou pronome pessoal e isso (pronome demonstrativo) faz toda a diferença. Na matemática, as diferenças ou se somam ou se somem. Prefiro o desencontro dos hiatos a qualquer tipo de rima. As ricas porque são ricas e as pobres por serem pobres. As rimas, enfim, não rimam. Gosto mesmo do cheiro das aspas. Seu perfume de incenso e plágio.

Quero somente as palavras soltas e suas sílabas quebradas. Não gosto de palavras presas em sentenças, sentenciadas à morte. Existe uma ponte ligando as vogais de um hiato. A ponte que me liga a mim é outra. Essa já não há. É como a mancha que fica na parede quando dela se retiram os móveis. Vou pintar as paredes desse quarto e, então, vou me livrar das manchas todas. Todas. Sei que na verdade elas não deixarão de existir. Estarão tão somente escondidas, soterradas, esmagadas pela tinta nova. Uma casca de esconder arranhões. Preciso pintar minha cara e depois minha alma. Não gosto de ditongos, eles me aborrecem. Essa insistência demente de estarem sempre juntos me enoja.

Também não me agradam os mapas. Prisões de montanhas e desertos e mares e florestas. Não me agradam os mapas.
A Hstória e sua estupidez sequencial – sucessão patética de mediocridades – me irrita ainda mais. O passado de nada me serve. Para que rever erros antigos se posso errar de novo e de novo e de novo hoje mesmo.

Gosto da Astrologia. Adoro pensar que as estrelas existem para mim. Que elas todas se reuniram quando nasci para desenharem meu caminho aqui nesse pequeno mundo de seres tão pequenos. Gosto dos astros. Gosto de pensar que eles me conhecem e que falam de mim quando adormeço. Gosto de pensar que eles se encontram e se desencontram e que suas vozes são como tenores desafinados hipnotizados por uma orquestra de instrumentos invisíveis a olho nu. Os astros podem se mover ainda que imóveis. Gosto, enfim, da Física que os inercia em sua benigna inércia.



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