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terça-feira, 22 de abril de 2014

XADREZ




E de onde virá esta necessidade whisky de pensar?
De onde vem este meu desejo inca de ser mais?
Por que não me valem meus dias vadios?
Meus dias vazios - por que não me velam?

Ando doido a catar cataventos e vaginas
Ando afoito querendo saber quem é Luther King
no jogo do bicho
no jogo de xadrez da toalha da mesa

Ando tonto de não acreditar em nada
de tanto não saber piada
nem saber rir da palhaçada
de ser cidadão de bem 
- útil, trabalhador:
enfermo de civilidade
enfermo de cidadania...

De onde virá este trambolho cinza
em mim,
que não me deixa deitar na cama
ouvir Sinatra e dormir pelado...
simplesmente?
Por que preciso ser o homem
que escova dentes, que corta unhas,
que faz a barba?
E não só o que se masturba
gostoso
antes do sono
que goza sozinho, egoísta
assim como nasceu um dia
e como há de morrer uma noite...






segunda-feira, 14 de abril de 2014

DESPEDIDA




Quando eu o conheci, ele chorava no canto, sentado no último banco. Precisava tirar os óculos sempre para secar os olhos. Ele chegou, sentou-se, ouviu, chorou. Depois entrou, falou, ouviu, calou, chorou.
E eu, de repente, me dei conta de que tudo acaba. Que a vida é assim, mesmo: por mais que se viva, ela vai perder, no fim, e vai-se embora de nós e o que sobra é um corpo deitado sem ar nos pulmões, sem força nas mãos, sem voz, sem beijo, sem passos nos pés.
Ouvi, falei, calei, chorei. 
A dor não era perder o companheiro dos muitos anos - a última voz ouvida antes do sono, a mão segurando a mão na hora do medo, o beijo roubando sentidos ao meio-dia. A dor era a não despedida. A dor era o adeus arrancado à força. A última vez olhando o rosto tantas vezes beijado simplesmente negada.
"A família dele não me permitiu ir ao velório nem ao enterro, nada. Não é a ausência que está me matando, mas o silêncio que ficou em mim por não dizer àquele corpo frio no caixão que eu o amaria para sempre. Suporto viver sem ele, mas não suporto que ele tenha ido sem mim".