Se o viado chama o
preto de preto é crime. Mas se o preto chama o viado de viado é o quê?
Como no Brasil não
há uma lei contra homofobia, não é crime.
Resposta:
Se o preto chama o
viado de viado é burrice, mesmo. É estupidez das grandes. É a pior das
alienações.
Tenho de ter muita convicção na minha luta
contra o racismo para crer que o negro, personagem da cena a que há pouco
assisti e que tanto me estarreceu, é uma exceção e não a representação dessa
etnia tão rica em cultura, história e luta.
Todo negro é
alguém que traz no sangue, na pele e na árvore genealógica séculos de luta
contra o preconceito e a discriminação num país que finge não ter racismo. Num
país que carrega, para sempre, a mancha da vergonha da escravidão e da exclusão
que se seguiu após sua abolição e que ainda se segue até os dias de hoje, ainda
que dissimuladamente.
Assistir a um
negro zombando de um homossexual dentro do mercado me deu vergonha, provocou-me
enjoo. Não por nenhuma filiação pessoal, mas por uma questão política. Na
melhor acepção da palavra, política é a capacidade de viver em sociedade, de
relacionar-se com o outro, de posicionar-se diante do outro, a partir do que se
acredita, do que se é como pessoa - este ser político que sou eu é que grita
agora de indignação. Não me é concebível que alguém que sinta na pele -
literalmente - as marcas do preconceito a vida toda, veja-se no direito de
agredir verbalmente outra pessoa por sua orientação sexual ou por qualquer que
seja o traço que a distinga da suposta maioria.
Obviamente, o negro, assim como qualquer
outra pessoa, tem direito a sua opinião e pode, sem o menor problema, não
aprovar o comportamento gay. Ele tem, inclusive, o direito de expressar esta
opinião, posto que vivemos em uma democracia. O que ele não pode jamais é, com
isso, desrespeitar o direito de o outro ser o que é.
Nossas opiniões têm momento, espaço e
maneira adequados para serem expressos e, com inteligência e bom senso, todos
somos capazes de usar a linguagem para isso sem invadir a liberdade e a
individualidade do outro.
Talvez seja este o problema do rapaz negro
da cena descrita: falta de inteligência e bom senso.