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segunda-feira, 14 de abril de 2014

DESPEDIDA




Quando eu o conheci, ele chorava no canto, sentado no último banco. Precisava tirar os óculos sempre para secar os olhos. Ele chegou, sentou-se, ouviu, chorou. Depois entrou, falou, ouviu, calou, chorou.
E eu, de repente, me dei conta de que tudo acaba. Que a vida é assim, mesmo: por mais que se viva, ela vai perder, no fim, e vai-se embora de nós e o que sobra é um corpo deitado sem ar nos pulmões, sem força nas mãos, sem voz, sem beijo, sem passos nos pés.
Ouvi, falei, calei, chorei. 
A dor não era perder o companheiro dos muitos anos - a última voz ouvida antes do sono, a mão segurando a mão na hora do medo, o beijo roubando sentidos ao meio-dia. A dor era a não despedida. A dor era o adeus arrancado à força. A última vez olhando o rosto tantas vezes beijado simplesmente negada.
"A família dele não me permitiu ir ao velório nem ao enterro, nada. Não é a ausência que está me matando, mas o silêncio que ficou em mim por não dizer àquele corpo frio no caixão que eu o amaria para sempre. Suporto viver sem ele, mas não suporto que ele tenha ido sem mim". 







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