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quinta-feira, 25 de abril de 2013

De Caetés a New York Times


Aí o moleque nasce miserável.
Nasce bem pra lá de onde Judas, um dia, dizem, perdeu as botas. Nasce numa família com outros – sei lá quantos – miseráveis.
Cresce miserável, mas por uma força qualquer, que é maior que ele mesmo, rompe a própria miséria e sai de lá, vai pra cidade grande, começa a trabalhar e, como milhões, não estuda, mas aprende uma profissão. Não estuda porque pobre, no país onde o moleque nasceu nunca pôde estudar, mesmo, mas teve uma profissão.
E o moleque miserável vira sindicalista, líder de outros trabalhadores que não aceitam ser explorados por aqueles que, por não nascerem na miséria, puderam estudar, puderam se doutorar e se acharem, então, no direito de explorar os outros. E o menino, já crescido então, funda um partido, o partido dos trabalhadores, vai preso, é torturado, é solto, é candidato – uma, duas, três vezes e só ganha quando muda o discurso, quando muda a aparência. Quando deixa de parecer miserável, quando deixa de parecer trabalhador e sindicalista. Só ganha quando o povo não o enxerga mais como povo. Porque povo é tão burro que não elege povo. Povo está tão acostumado a tomar no cu que gosta, mesmo, é de eleger dominante. Então, quando o miserável vestiu terno e gravata, começou a falar como dominante, então, ele venceu eleição, virou presidente.
Mas pra fazer pelo povo, o presidente viu que precisava se juntar com quem ele sempre combateu. Precisava fazer aliança com os inimigos. E fez. Fez porque tinha um objetivo maior. Um compromisso com a sua própria história. Erros há, houve e haverá sempre – ainda bem. Pois o menino miserável, agora de terno e gravata é humano e bem humano.
Elegeu-se de novo e eleger-se-á quantas vezes mais se candidatar.
Hoje o menino pobre é MUNDIALMENTE aclamado, reconhecido, premiado, homenageado. O mundo o aplaude, o mundo o respeita. Ele só não é respeitado no seu próprio país, pelo seu próprio povo. Não por todos, é claro, mas por uma minoria recalcada, por uma pseudo elite ignorante, alienada, burra, estúpida que absorve o discurso do dominante e acha que lugar de pobre ainda é na senzala. Esse pessoal não se conforma que nosso moleque pobre  permitiu que o filho da empregada chegasse à universidade, não se conforma que o motorista do homem rico, hoje, pode dirigir o seu próprio carro zero. Não se conforma em ter que admitir que o proletário semianalfabeto, como eles adoram dizer (sem ter o menor fundamento científico sobre letramento e alfabetização), levou o país a um equilíbrio econômico, social e político como nunca visto antes.
Agora têm que engolir que o nordestino ignorante, pobre, sindicalista tem título pela Sorbonne, tem prêmio Nelson Mandela e tem coluna no New York Times dentre tantas outras honrarias. O que me impressiona é ver pobre falando mal do Lula. Quando vejo um magnata tecendo comentários preconceituosos sobre ele me calo, o cara, afinal, está defendendo interesses legítimos, agora um pobre, ou classe média – é burrice pura. É alienação do pior tipo. Quem não sabe, explico: alienação tem a ver com ‘alien’, ‘alienígena’ – isto é – absorção do discurso do outro – do estrangeiro – é assim: eu passo a pensar como alguém que não sou eu. Fico, por exemplo, assistindo aos programas imbecilizantes da rede esgoto e de outras piores, ou lendo as porcarias da Revista “Veja que Merda” e vou absorvendo e saio, por aí, reproduzindo esses discursos como se fosse verdade, como se aquilo me representasse. Ex.: certa vez vi um imbecil, na minha cidade,  Ilha Solteira, interior de São Paulo, falando mal do movimento sem-terra, o coitado não tinha sequer um terreno no cemitério pra cair morto... e falava dos sem-terra. Isso é alienação. Se um latifundiário estivesse fazendo o mesmo discurso era um discurso válido, mas um pobre coitado, não, é burrice mesmo.
Cada um é livre para ter opinião, claro. Vivemos numa democracia, aliás, graças a esforços de pessoas como a Dilma, que lutaram contra a ditadura. Podemos não gostar do Lula, claro. O que não podemos é negar os avanços explícitos, escandalosos, óbvios dos seus dois mandatos. Negar tudo isso, repito, é estupidez, é a velha história do ‘pior cego é o que não quer ver’. Como professor universitário há mais de dez anos, eu vi a mudança nos bancos da graduação, vi alunos chegando pra estudar advindos de classes sociais que não teriam a menor chance de um diploma, antes de programas como o PROUNI e o FIES.
Acusam-no de corrupção.  É o mesmo que acusar o médico que descobriu a doença que há muito afligia o paciente – veja, o Brasil não começou a ter corrupção em 2002, isso é ridículo, é burrice de novo. Há séculos, sofremos com corrupção. O que está acontecendo é que isso está vindo à tona como nunca antes. Alguns vão preferir culpar o médico pelo câncer ou culpar a Deus ou ao capeta, sei lá  - isso é covardia. O fato é que nós somos um povo corrupto e que estamos, lenta e dolorosamente, aprendendo a mudar isso. O famoso “jeitinho brasileiro” – se você vai ao SUS e conhece alguém lá dentro, diga se não vai tentar conseguir adiantar o dia da sua consulta, não vai tentar facilitar a sua vida... então, isso é corrupção... está na alma do brasileiro  - mas é muito mais fácil acusar o Lula – bota a culpa no nordestina pobre. Enquanto mais de 600 denúncias de corrupção foram engavetadas no governo FHC, enquanto o mensalão do PSDBosta até hoje não é investigado, as denúncias do governo LULA/DILMA estão aí sendo todas esmiuçadas.
O fato é que o mundo percebeu o quanto o Brasil cresceu nos últimos 10 anos. O mundo viu o país que éramos e o país que somos. O mundo viu que o grande sociólogo, Dr. FHC, não conseguiu fazer o que o simples metalúrgico fez e porque o sociólogo estava preocupado em vender o Brasil, em agradar aos Estados Unidos.
Aliás, este é um ponto chave em tudo isso. Até 2002, o Brasil fazia negócios, basicamente só com os Estados Unidos, hoje, negociamos com o mundo todo.
Sei que muito tenho estudado e muito mais estudarei na minha vida – muito mesmo – mas sei que devo morrer sem uma coluna no New York Times, provavelmente. Provavelmente, também, sem um título da Sorbonne, mas inveja é uma coisa feia, não é? O que o menino pobre, sindicalista, melhor presidente da república do Brasil de todos os tempos conseguiu é mérito dele, parabéns a ele, ao seu esforço. Que nós busquemos seguir seu exemplo e conquistar, também, nossas vitórias, em vez de invejá-lo e tentar diminuir o seu tamanho. Lula é um homem que fez muito mais pelo Brasil do que mil Pelés jamais farão.

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